O complexo Myosotella 'myosotis/denticulata': uma perspetiva morfológica, molecular e ecológica

Dissertação de Mestrado, Biodiversidade e Ecologia Insular, 29 de Maio de 2013, Universidade dos Açores. Myosotella myosotis (Draparnaud, 1801), espécie tipo do género Myosotella Monterosato, 1906, é morfologicamente muito variável, tendo sido descritas mais de 40 espécies actualmente incluídas na s...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Mendes, Ana Rita Marques
Other Authors: Martins, António M. de Frias
Format: Master Thesis
Language:Portuguese
Published: 2013
Subjects:
Online Access:http://hdl.handle.net/10400.3/3120
Description
Summary:Dissertação de Mestrado, Biodiversidade e Ecologia Insular, 29 de Maio de 2013, Universidade dos Açores. Myosotella myosotis (Draparnaud, 1801), espécie tipo do género Myosotella Monterosato, 1906, é morfologicamente muito variável, tendo sido descritas mais de 40 espécies actualmente incluídas na sua sinonímia. Embora presentemente tido como género monotípico, duas formas há muito têm sido reconhecidas: uma mais comum, robusta e com abertura da concha moderadamente denticulada associada a M. myosotis e outra mais delicada, de abertura fortemente denticulada associada a Myosotella. denticulata (Montagu, 1803). As duas formas são comuns em sapais e entre calhaus rolados acima do supratidal, ainda que a forma denticulada ocorra preferencialmente em habitats perto da maré-alta frequentemente em costas expostas (Martins, 1999). Nos Açores duas espécies similares às formas acima referidas foram descritas por Morelet (1860) da ilha do Pico, mas Martins (1996) considerou-as sinónimos de Myosotella myosotis. Este trabalho, seguindo uma abordagem holística, pretende determinar se haverá fundamento taxonómico para as duas formas myosotis/denticulata e, no seguimento, avaliar o estatuto das espécies descritas por Morelet (1860) para o Arquipélago dos Açores. Para tal dividiu-se o trabalho em três secções, abordando-se respectivamente as características morfométricas, ecológicas e moleculares. O material utilizado proveio de 28 locais, divididos em 7 regiões: Mediterrâneo (Creta), Atlântico Nordeste (Portugal Continental), Macaronésia (Açores, Madeira), Atlântico Sul (África do Sul), Atlântico Noroeste (Bermudas) e Pacífico Norte (Los Angeles). No total foram estudados 247 indivíduos, 186 nas análises morfométricas, 61 no estudo da ecologia e 48 nas análises moleculares. Não se tendo obtido espécimes do local tipo para as duas formas, pelas características conquiológicas adoptou-se para a forma denticulata (originária do sul da Inglaterra) os exemplares de Creta, enquanto para a forma myosotis (originária da costa sul de França) foram escolhidos os exemplares de Portugal Continental pela similaridade da concha e pela proximidade com o Mediterrâneo. As análises morfométricas, ecológicas e moleculares mostraram separação significativa entre os indivíduos de Creta e das restantes regiões consideradas, em particular com Portugal Continental, justificando consideração sobre o seu estatuto específico respectivo. Ainda que para os Açores se tenha verificado uma separação não tão evidente, indícios sugerem que, para além da forma myosotis, uma outra entidade taxonómica pode existir, em particular no grupo central. Conclui-se, assim, que se justifica um estudo mais pormenorizado e aprofundado do género Myosotella nos Açores, incidindo mormente na anatomia e análise molecular. Os resultados daí advenientes permitirão interpretações biogeográficas mais sólidas, possivelmente obrigando a uma reconsideração da teoria comummente aceite da dispersão antropogénica de Myosotella myosotis por todo o mundo. ABSTRACT: Myosotella myosotis, (Draparnaud, 1801), type species of the genus Myosotella Monterosato, 1906, is morphologically very variable and more than 40 species have been described and currently included in its synonymy. Although presently considered a monotypic genus, two forms have long been recognized: one more common and robust, with shell aperture moderately denticulate associated with M. myosotis and another more delicate, with aperture strongly denticulate associated with Myosotella denticulata (Montagu, 1803). Both forms are common in marshes and among pebbles above the supratidal level, although the denticulate form occurs preferentially in habitats near the high tide often in exposed coasts (Martins, 1999). In the Azores two species similar to both abovementioned forms were described by Morelet (1860) from Pico Island but Martins (1996) considered both synonyms of M. myosotis. This work, following a holistic approach, aims to determine whether there is taxonomic ground for both forms myosotis / denticulata and, ensuing, to evaluate the status of the species described by Morelet (1860) for the Azores Archipelago. To achieve that, the work was divided into three sections, dealing respectively with the morphometric, ecological and molecular characteristics. The material used came from 28 sites, divided into 7 regions: Mediterranean (Crete), Northeast Atlantic (Portugal mainland), Macaronesia (Azores, Madeira), South Atlantic (South Africa), Northwest Atlantic (Bermuda) and North Pacific (Los Angeles). A total of 247 individuals were studied, 186 in morphometric analyses, 61 in the ecological study and 48 in molecular analyses. Not having obtained specimens from the type localities for the two forms, following the conchological characteristics the specimens from Crete were adopted as surrogates of the form denticulata (originally from southern England), whereas for the form myosotis (originally from the south coast of France) specimens from Portugal mainland were selected, on account of the similarity of the shell and the proximity to the Mediterranean. The morphometric, ecological and molecular analyses showed a significant separation between the individuals from Crete and those from the other regions considered, in particular Portugal mainland, thus justifying consideration as to their respective specific status. Even if for the Azores a not so apparent separation has been recorded, a piece of evidence suggests that, besides the form myosotis, another taxonomic entity may exist, particularly in the central group. We conclude, therefore, that a larger, detailed and thorough study of the genus Myosotella in the Azores is justified, focusing mainly on the anatomical and molecular analyses. The results derived from such research will enable stronger biogeographical interpretations, possibly forcing a reassessment of the commonly accepted theory of anthropogenic dispersal of Myosotella myosotis worldwide.