Entre aqueles que incomodam: a práxis antropológica na relação entre hidrelétricas e povos indígenas no sul do Brasil

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Florianópolis, 2016. A política energética brasileira, consolidada na década de 1970, atrelou-se ao modelo de desenvolvimento econômico e industr...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Silva, Elis do Nascimento
Other Authors: Ioris, Edviges Marta, Universidade Federal de Santa Catarina
Format: Master Thesis
Language:Portuguese
Published: 2016
Subjects:
Sul
Online Access:https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/175854
Description
Summary:Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Florianópolis, 2016. A política energética brasileira, consolidada na década de 1970, atrelou-se ao modelo de desenvolvimento econômico e industrial proposto pelos governos militares a partir de 1964, período em que grandes projetos hidrelétricos começam a ser implantados em algumas regiões do país através de um planejamento estratégico do Estado brasileiro. Neste contexto, a Eletrosul (Centrais Elétricas do Sul do Brasil S.A) formulou um projeto para a exploração integral do potencial energético da bacia do rio Uruguai (SC/RS), denominado Projeto Uruguai, o qual previa a implantação de cerca de 22 aproveitamentos hidrelétricos em seu trecho nacional. Entretanto, os locais selecionados para a implantação desse conjunto de hidrelétricas na bacia do rio Uruguai correspondem aos territórios tradicionalmente ocupados pelas populações indígenas originárias dessa região, como as Kaingang e Guarani, constituindo os efeitos dos empreendimentos propostos pela Eletrosul uma ameaça à vida e aos direitos desses povos. Visto o cenário nacional e internacional no qual é concebido e formulado o Projeto Uruguai, nos anos 1970, a Eletrosul realizou naquele período uma série de estudos para o levantamento do potencial energético da bacia do rio Uruguai e convidou, por intermédio do Grupo de Estudos do Rio Uruguai (GERU), o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da (PPGCS/UFSC), representado à época pelo professor Silvio Coelho dos Santos, para a realização de estudos antropológicos sobre os possíveis efeitos das hidrelétricas propostas às populações indígenas desta região hidrográfica do Sul do Brasil. Elaborados durante o regime de ditadura civil-militar que se impunha no país, num contexto marcado por denúncias de práticas de genocídio e etnocídio pela política indigenista brasileira, o antropólogo Silvio Coelho dos Santos realizou, junto às equipes de pesquisadores/as coordenadas por ele, estudos acerca dos potenciais efeitos deletérios desse conjunto de hidrelétricas às populações indígenas da bacia do rio Uruguai, nos anos 1970 e 1980. Esses estudos são considerados pioneiros no histórico de relacionamento entre o Setor Elétrico, a Antropologia e os Povos Indígenas no país. A partir do espólio documental contido no acervo do professor e antropólogo Silvio Coelho dos Santos, situado no Núcleo de Estudos de Populações Indígenas (NEPI/UFSC), bem como das representações de alguns/mas interlocutores/as envolvidos/as, esta pesquisa busca reconstituir, compreender e analisar as relações entre os projetos hidrelétricos, os Povos Indígenas e a Antropologia no Sul do Brasil, de forma especial nos anos 1970 e 1980, a partir do estudo de caso da práxis de Silvio Coelho dos Santos no âmbito do Projeto Uruguai. Abstract : The brazilian energy policy consolidated in the 1970s was related to the model of economic and industrial development proposed by the military governments since the coup in 1964, when huge hydroelectric projects began to be implemented in some regions of the country through strategic planning of the Brazilian State. In this context, the Eletrosul (Electric Company of Southern Brazil S.A) formulated a project to fully exploit the energy potential of the Uruguay River basin (SC/RS), called Uruguay Project, which estimated the implementation of approximately 22 dam projects in its national stretch. However, the sites selected for the implementation of these hydroelectric dams in the Uruguay River basin pass through to the territories traditionally occupied by indigenous communities, such as the Kaingang and Guarani. Thus, the effects of these projects proposed by Eletrosul are a threat to the lives and rights of these First Nations. Considering the national and International scenario in which the Uruguay Project was conceived and formulated, the Eletrosul conducted, during that period (1970s), a series of studies to survey the energy potential of the Uruguay River basin and invited - through the Uruguay River Study Group (GERU), the Postgraduate Program in Social Sciences of the Federal University of Santa Catarina (PPGCS/UFSC) ? the professor Silvio Coelho to carry out anthropological studies to measure the possible consequences of the hydroelectric plants to the indigenous communities of this hydrographic region. Although in a dictatorial context, in the 1970s and 1980s, marked by practices of genocide and ethnocide carried out by Brazilian indigenous policies, the anthropologist Silvio Coelho dos Santos accomplished with the teams of researchers coordinated by him, studies on the deleterious effects of this set of hydropower to the indigenous populations of the Uruguay River basin. These studies are considered pioneers in the historical relationships between the Electric Sector, Anthropology and the Indigenous Peoples in the country. This research intent to understand the relationships between hydroelectric projects, indigenous communities and anthropology in Southern Brazil, by doing a case study of the praxis of Silvio Coelho dos Santos in the Uruguay Project setting, analyzing both his documentary collection localized in the Nucleus of Studies of Indigenous Populations (NEPI/UFSC) and the representations of some interlocutors that were involved.