Percepções da presa

Para os Yukaghirs da Sibéria, a presa é vista como uma amante que precisa se “entregar” ao caçador, demonstrando desejo sexual por ele. Consequentemente, o caçador busca seduzir a presa transformando seu corpo na imagem dela. Contudo, esse empreendimento é arriscado e pode resultar na perda de sua a...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Rane Willerslev
Format: Article in Journal/Newspaper
Language:English
Spanish
French
Portuguese
Published: Universidade de Brasília 2018
Subjects:
Online Access:https://doaj.org/article/a1c522b218254e4bad46b633e7a3c5cd
Description
Summary:Para os Yukaghirs da Sibéria, a presa é vista como uma amante que precisa se “entregar” ao caçador, demonstrando desejo sexual por ele. Consequentemente, o caçador busca seduzir a presa transformando seu corpo na imagem dela. Contudo, esse empreendimento é arriscado e pode resultar na perda de sua aderência à espécie original. Por essa razão, dentro do acampamento humano, o processo de caçar é oposto por um contraprocesso, implicando o esforço do caçador em sanear a alteridade do seu eu e reconstruir sua pessoalidade humana. Ainda assim, o caçador não é apenas ele mesmo, uma vez que ele acredita ser a encarnação de um parente morto. O ponto que desejo ressaltar é que a estabilidade do eu ou da pessoa é, na verdade, impossível de se manter entre os Yukaghirs, onde ninguém é apenas ele mesmo, mas sempre alguém mais.