Migrações de J. M. G. Le Clézio
INTRODUÇÃO A MIGRAÇÕES DE J.M.G. LE CLÉZIOJean Paul Deléage*** A ciência está longe de responder ao conjunto de questionamentos sobre os problemas da humanidadee do mundo. As interrogações artísticas, especialmente as literárias, têm frequentemente um alcancemais profundo, como testemunha a obra mag...
Published in: | Desenvolvimento e Meio Ambiente |
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Main Author: | |
Format: | Article in Journal/Newspaper |
Language: | Portuguese |
Published: |
UFPR
2008
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Subjects: | |
Online Access: | https://revistas.ufpr.br/made/article/view/13431 https://doi.org/10.5380/dma.v18i0.13431 |
Summary: | INTRODUÇÃO A MIGRAÇÕES DE J.M.G. LE CLÉZIOJean Paul Deléage*** A ciência está longe de responder ao conjunto de questionamentos sobre os problemas da humanidadee do mundo. As interrogações artísticas, especialmente as literárias, têm frequentemente um alcancemais profundo, como testemunha a obra magistral de Jean-Marie Gustave Le Clézio, autor que acabade ganhar um prêmo Nobel de literatura. Lugares longínquos do mundo e mistérios da identidade e intimidadehumanas, críticas luminosas dos erros ecológicos e sociais de uma época imperdoável são osinvariantes dos escritos de Le Clézio. Quanto aos fracos e imbecis que não se opuseram a esses erros,eles merecem toda a extrema severidade do autor e de seus contemporâneos. “Escrever ao mundo”, essa é a intenção primeira de Le Clézio. “Nesse sentido, eu direi primeiramenteque não existe Le Clézio sem nós. Nascer no mundo e escrever ao mundo são entrelaçados à nossa leiturado mundo”, escreve Véronique Giorgiutti no belo texto que ela nos oferece a ler. Escrever ao mundopara dar conhecimento de seu compromisso com o homem, mais que com a terra que ele habita, porqueesta última finalmente resistirá, enquanto que numerosos serão os seres humanos massacrados peladesumanidade das ações das sociedades ocidentais, indiferentes à pobreza dos homens e à destruiçãoda natureza. Porque, como ele escreve em Raga: “No presente, o menor pedaço de terra no coração daselva amazônica, os canions gelados da Antártica foram examinados [.] pelo olho frio do satélite. Seresta um segredo, é no interior da alma que ele se encontra, no longo cortejo de desejos, lendas, máscarase cantos que se mistura no tempo e ressurge e corre sobre a pele dos povos.” Um crescendo em refrão de uma explosão de pânico conclui a última obra do autor, Ritournelle de lafaim. Não estamos hoje em uma situação análoga àquela dos ouvintes da première histórica do Bolerode Ravel, à qual presenciou a mãe do escritor e da qual falou Claude Lévi-Strauss, que estava na sala.Bolero é uma profecia e conta a história de uma cólera, de uma fome. Quando se encerra na violência,o silêncio que se segue é terrível para os sobreviventes estarrecidos, escreve ainda Jean Marie G. Le Clézio na derradeira página de seu último romance. *** Professor emérito da Université d’Orléans e diretor da revista Écologie&Politique. INTRODUCTION À MIGRATIONS DE J.M.G. LE CLÉZIOJean Paul Deléage La science est loin d’englober à elle seule l’ensemble des questionnements sur les problèmes de l’humanitéet du monde. Les interrogations artistiques et singulièrement littéraires ont souvent une portée plus profondecomme en témoigne l’oeuvre magistrale de Jean-Marie Gustave Le Clézio que vient de distinguerle prix Nobel de littérature. Lointains du monde et mystères de l’identité et de l’intimité humaines,critiques lumineuses des fautes écologiques et sociales d’une époque impardonnable sont des invariantsdes écrits de Le Clézio. Quant aux faibles et aux imbéciles qui laissent faire, ils ne méritent rien d’autre que l’extrême sévérité de l’auteur et de leurs contemporains. Ecrire au monde, telle est l’intention première de Le Clézio. Dans ce sens, je dirai d’abord qu’il n’existepas de Le Clézio sans nous. Naître au monde et écrire au monde sont enlacés à nos lire le monde, écritVéronique Giorgiutti dans le beau texte qu’elle nous donne à lire. Ecrire au monde pour faire connaîtreson souci de l’homme plus que celui de la Terre qu’il habite, car cette dernière finalement résistera tandisque nombreux seront les êtres humains broyés par la déshumanité des actions des sociétés occidentales,indifférentes à la pauvreté des hommes et à la destruction de la nature. Car, comme il l’écrit dans Raga:“A présent, le moindre arpent de terre jusqu’au cœur de la selve amazonienne, jusqu’aux canyons gelésde l’Antarctique, a été examiné […] par l’oeil froid du satellite. S’il reste un secret, c’est à l’intérieur del’âme qu’il se trouve, dans la longue suite de désirs, de légendes, de masques et de chants qui se mêle au temps et resurgit et court sur la peau des peuples…” Une montée en ritournelle d’un déchaînement panique conclut le dernier ouvrage de l’auteur, Ritournellede la faim. Ne sommes-nous pas aujourd’hui dans une situation analogue à celle des auditeurs de lapremière historique du Boléro de Ravel à laquelle assista en 1928 la mère du narrateur et dont a parléClaude Lévi-Strauss qui était dans la salle. Le Boléro est une prophétie et il raconte l’histoire d’une colère,d’une faim. Quand il s’achève dans la violence, le silence qui s’ensuit est terrible pour les survivantsétourdis écrit encore Jean Marie G. Le Clézio dans l’ultime page de son dernier roman. INTRODUCTION TO MIGRATIONS OF J.M.G. LE CLÉZIOJean Paul Deléage The science is far from containing all the questionings on the problems of the humanity and the world.The artistic and singularly literary questionings have often a deeper impact as is shown in the masterflywork of Jean-Marie Gustave Le Clézio who has just distinguished by the Nobel Prize in Literature.Far away worlds and mysteries of human identity and intimacy, brilliant criticisms of the ecologicaland social faults of unforgivable times are invariants of the writings of Le Clézio. As for the weak andthe imbecile people who give up, they deserve nothing but the extreme severity of the author and theircontemporaries. “Write to the world”, this is the first intention of Le Clézio. “Following this idea, I shall say first thatthere is not a Le Clézio without us. “To be born to the world and write to the world are linked in ourreading of the world.”, writes Véronique Giorgiutti in the beautiful text she offers us to read. To writeto the world to show our concern for the people rather than the Earth on which they live, because it willfinally resist whereas there will be many human beings crushed by the inhumanity of the actions of thewestern societies, indifferent to their poverty and to the destruction of nature. Because, as he writes itin Raga: “today, the slightest acre of earth up to the heart of the Amazonian forests, up to the ice-coldcanyons of Antarctica, was examined […] by the cold eye of satellites. If a secret remains, it is insideour soul, in the long continuation of desires, legends, masks and songs which is mixed to the time andreappears and runs on the skin of the people …” A rise in ritournelle of a panic outburst ends the last work of the author, Ritournelle of the hunger. Aren’twe today in a situation similar to that of the first listeners at the première of the Bolero of Ravel attendedby the mother of the narrator in 1928 as well as by Claude Lévi-Strauss who expressed himself on thatmatter. Jean Marie G. Clézio writes in the last page of its last novel that the Bolero is a prediction: “hetells the story of an anger, a hunger. When it ends in the violence, the silence which follows is terriblefor the stunned survivors”. |
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