Bíblia e império: a Miscelánea Antártica (1586) de Miguel Cabello Valboa e a teoria ofírica sobre a origem dos ameríndios

Resumo Nos séculos XVI e XVII, um intenso debate foi travado sobre a origem dos índios americanos. Os autores, religiosos, juristas e funcionários da Coroa espanhola, buscavam nos textos do Antigo Testamento as passagens que pudessem explicar a existência dessa outra humanidade. Quem eram os amerínd...

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Bibliographic Details
Main Author: Carvalho,Francismar Alex Lopes de
Format: Article in Journal/Newspaper
Language:Portuguese
Published: Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho 2020
Subjects:
Online Access:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90742020000100413
Description
Summary:Resumo Nos séculos XVI e XVII, um intenso debate foi travado sobre a origem dos índios americanos. Os autores, religiosos, juristas e funcionários da Coroa espanhola, buscavam nos textos do Antigo Testamento as passagens que pudessem explicar a existência dessa outra humanidade. Quem eram os ameríndios? Como ali chegaram? Que direitos teriam os espanhóis de incorporar aquelas terras e gentes ao seu império? Este texto analisa a posição peculiar, nesse debate, da obra Miscelánea Antártica, escrita pelo clérigo espanhol Miguel Cabello Valboa, em 1586. Trata-se de um extenso manuscrito cuja importância reside não apenas em ter sido um dos primeiros trabalhos a enfrentar o assunto, como também em oferecer uma interpretação que evitava apresentar uma visão negativa dos nativos. Em sua leitura muito particular da Bíblia, Cabello Valboa definia uma genealogia altamente positiva para os índios, remontando a Ofir e, por extensão, a Sem, filho de Noé. Sua apresentação favorável das culturas andinas completava-se, sem escamotear a violência da conquista, com a ênfase na mestiçagem como caminho conciliatório.