Aves migratórias ocorrentes no Pantanal: caracterização e conservação.

Periodicamente o Brasil é visitado por milhares de aves que realizam movimentos sazonais da América do Norte para a América do Sul e vice-versa (Sick 1983, Morrison et al. 1989, Chesser 1994). Dentre as aves que visitam o território nacional, destacam-se aquelas que migram com a proximidade do inver...

Full description

Bibliographic Details
Main Authors: NUNES, A. P., TOMAS, W. M.
Other Authors: Embrapa Pantanal (Corumbá, MS).
Format: Other/Unknown Material
Language:Portuguese
Published: Corumbá: Embrapa Pantanal, 2004. 2004
Subjects:
Ave
Online Access:http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/811658
Description
Summary:Periodicamente o Brasil é visitado por milhares de aves que realizam movimentos sazonais da América do Norte para a América do Sul e vice-versa (Sick 1983, Morrison et al. 1989, Chesser 1994). Dentre as aves que visitam o território nacional, destacam-se aquelas que migram com a proximidade do inverno boreal (Antas 1994). Os migrantes vêm ao Brasil à procura de locais de invernada, onde encontram alimentação farta, propiciando-lhes a continuidade do seu ciclo de vida (Telino Jr. et al. 2003). Estas aves apresentam extraordinária capacidade de percorrer longas distâncias (Hayman et al. 1986; Antas 1989; Morrison et al. 1989; Sick 1983, 1997; Azevedo Jr. et al. 2002, Alerstan et al. 2003). No período de inverno, a baixa oferta de recursos alimentares aliada a fatores endógenos, induz a migração de várias espécies dos Hemisférios Norte e Sul aos sítios de alimentação ou áreas de invernada em países vizinhos ou outros continentes. Nestas áreas permanecem até o início da primavera em seu local de origem, para onde retornam e se reproduzem (Hayman et al. 1986, Antas 1989, Azevedo Jr. et al. 2002). No território nacional, são encontrados vários sítios de invernada, os quais são de extrema importância para conservação e manutenção destas espécies, desde o Amapá até o Rio Grande do Sul, como a Ilha de Campechá (MA), a Lagoa do Peixe (RS), a Coroa do Avião (PE) o Pantanal (MS e MT). Outras áreas úmidas como as do Rio das Mortes (MT) e Araguaia (região da Ilha do Bananal, no MT e TO), a planície de inundação do Rio Guaporé (RO) e as várzeas remanescentes do Rio Paraná (MS e PR), destacam-se pela sua grande importância como sítios de invernada para várias espécies de aves migratórias. Famílias de aves, como Charadriidae (batuíras), Scolopacidae (maçaricos e narcejas) e Laridae (gaivotas), se aglomeram todos os anos nessas áreas devido à riqueza e disponibilidade de alimento (Azevedo Jr et al. 2001b). A fartura de alimento propicia a essas aves a garantia de engorda, aquisição de energia suficiente para efetuar a muda das penas e retorno ao seu sítio de reprodução (Andrade 1997; Sick 1983, 1997; Azevedo Jr. et al. 2001a,b; Fedrizzi et al. 2004). As aves migratórias são subdivididas em três grupos: as do Hemisfério Norte, do Hemisfério Sul e Neotropicais. As que vêm do Hemisfério Norte são consideradas as grandes migrantes, visto que cruzam hemisférios. Estas voam mais de 20 mil quilômetros desde os pontos de reprodução no Ártico até chegarem ao Brasil. Elas entram no Brasil principalmente pela costa Atlântica e pela Amazônia, atravessando a região central através do Pantanal até alcançarem o sul do continente, em direção à Patagônia (Argentina e Chile), ponto principal de concentração dessas aves (Sick 1983). Estes migrantes entram no Brasil através de quatro rotas conhecidas: a do Pacífico, a Cisandina; a do Brasil Central (incluindo as rotas do Rio Negro ? Pantanal e dos Rios Xingú - Tocantins) e a Atlântica (Antas 1983, Castro e Myers 1987; Myers et al. 1985a,b). Estudos têm mostrado que várias espécies de aves migratórias são fiéis às áreas de invernada, retornando ao mesmo local todos os anos (Castro e Myers 1987; Finch 1991; Holmes e Sherry 1992; Walkentin e Hernández 1996; Pereira et al. 1997; Azevedo Jr. et al. 2001a,b; 2002). De acordo com Zimmer (1938) e Stotz et al. (1992), as aves migratórias setentrionais que se deslocam para a América do Sul utilizam as áreas de baixa elevação do leste americano, até atingirem o Golfo do México, cruzando as Ilhas do Mar das Antilhas, alcançando o continente Sul-Americano pela costa Venezuelana e Colombiana e, a partir daí, podem utilizar-se de uma das quatro rotas citadas anteriormente. A rota Cisandina aproxima-se da região do Acre, e daí as aves podem seguir um trajeto que as leva em direção à Patagônia e outro que adentra a região oeste do território nacional, na qual podem conectar-se com outras rotas, como a do Brasil Central. Estas rotas são vantajosas para as aves, uma vez que permite desviar da Cordilheira dos Andes e da Serra da Pacaraima, na Venezuela (Sick 1983, Stotz et al. 1992). Para o Brasil migram espécies oriundas do Hemisfério Norte (Estados Unidos, Canadá e México), e países da América Central, bem como também do sul do continente (Argentina, Chile e Uruguai), e até mesmo da Antártida. O grupo que vem do Hemisfério Norte, concentra-se em vários pontos dentro do território nacional, principalmente no norte, em duas regiões conhecidas popularmente como o Salgado Paraense, no Pará, e as Reentrâncias Maranhenses, no Maranhão. O terceiro ponto de maior concentração é o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul. As espécies que realizam deslocamentos regionais entre a região central (Pantanal) e Sul, tais como os cabeças-secas (Mycteria americana) e colhereiros (Platalea ajaja), que migram conforme a subida e a descida das águas do Pantanal (Yamashita e Valle 1986; Antas e Nascimento 1992, 1996; Antas et al. 1993; Silva e Fallavena 1995). De acordo com Sick (1997), as espécies que vem do Sul, representam apenas 40% dos migrantes, e na maioria são aves aquáticas. Ainda segundo o mesmo autor, os migrantes Passeriformes meridionais são pouco representativos, com apenas 15 espécies, pertencentes às Famílias Tyrannidae (os mais representativos, com 7 espécies), Hirundinidae, Mimidae, Cardinalidae e Icteridae. O comportamento e rota migratória é variável dentro dos grupos taxonômicos. Desta forma, aves da ordem Passeriforme deslocam-se por ambientes terrestres, como florestas, campos e cerrado, bem como ambientes antropizados (Luna et al. 2003). Tubelis e Tomas (2003) reconhecem 463 espécies de aves ocorrendo no Pantanal, baseando-se em todos os inventários e coletas já realizadas na planície. Publicações salientam a importância do Pantanal para as aves, principalmente por suportar uma extraordinária abundância de aves aquáticas (Sick 1997) e por atuar como importante rota de migração de visitantes que sazonalmente deixam o Sul do continente ou o Hemisfério Norte (Antas 1983, 1994; Cintra & Yamashita 1990). No entanto, pouco se conhece a respeito das espécies que utilizam a planície do Pantanal como sítio de invernada durante seus deslocamentos migratórios, quer sejam migrantes em larga escala ou regionais. 2004