A onto-política do cuidado multiespécies

Coiotes (Canis latrans) que fazem visitas noturnas a campus universitários e bairros urbanos da capital. Baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae) que jogam com as crias na proximidade das praias turísticas. Antas (Tapirus bairdii) que transitam por rotas traçadas para visitantes humanos em áreas sil...

Full description

Bibliographic Details
Published in:CSOnline - REVISTA ELETRÔNICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Main Author: Luis Barboza
Format: Article in Journal/Newspaper
Language:English
Spanish
Portuguese
Published: Universidade Federal de Juiz de Fora 2022
Subjects:
Online Access:https://doi.org/10.34019/1981-2140.2021.36271
https://doaj.org/article/cafce44b2a294c1aad76b53afc539a52
Description
Summary:Coiotes (Canis latrans) que fazem visitas noturnas a campus universitários e bairros urbanos da capital. Baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae) que jogam com as crias na proximidade das praias turísticas. Antas (Tapirus bairdii) que transitam por rotas traçadas para visitantes humanos em áreas silvestres protegidas. Macacos-prego-de-cara-branca (Cebus capucinus) ladrões de comida que ficaram sem vítimas humanas às quais abordar. O avistamento de espécies da fauna silvestre em espaços de intensa atividade humana converteu-se em um acontecimento frequente durante os primeiros meses do confinamento social adotado pelos governos para reduzir a disseminação do vírus da Covid-19. O presente ensaio trata sobre um dos aspectos mais paradoxais da emergência sanitária provocada pela atual pandemia: o “retorno” da vida selvagem às cidades num momento histórico em que a crise ambiental e a degradação dos habitats naturais resultante das ações antrópicas estão provocando o surgimento de ameaças para a saúde humana sem paralelo na época contemporânea. O objetivo é gerar uma reflexão crítica sobre as implicações ético-políticas e pedagógicas dos avistamentos e sua relação com o desenvolvimento de iniciativas e programas públicos de proteção da biodiversidade. Através da articulação de relatos sobre experiências acontecidas na Costa Rica, neste ensaio propõe-se a hipótese de que os avistamentos podem influir na reconfiguração de geografias mais que humanas, na medida em que essas vivências alteram a percepção humana sobre as paisagens e o modo de experimentar a coexistência multiespécies. Assim, cabe perguntar se os avistamentos têm contribuído a criar condições e significados que tenham transformado as relações entre humanos e animais durante a pandemia. Também interessa estudar o papel e a importância das interfaces tecnológicas nesses encontros e sua ligação com mudanças no estatuto ontológico dessas relações. Se argumenta que a abordagem destas questões pode gerar um conjunto alternativo de recursos cognitivos e de ...